CRÓNICA DO CAMPO 2025
“Cavaleiros de São Nuno! O que é que nós fazemos?!”
“Ah uh! Ah uh!”
“Cavaleiros de São Nuno! Quem é o nosso inimigo?!”
“CaMuDe! CaMuDe!”
Os pais já partiram. Já não há volta atrás! Temos onze dias pela frente. Onze dias a caminhar, debaixo de sol e chuva, sobre terra e mar. Onze dias a acampar, a rezar, a aprender, a cantar. Onze dias para conhecer novos lugares, novas paisagens, novas caras, novos talentos. Onze dias sem tecnologia, sem máquina de lavar, sem saber que tipo de aventuras nos esperam ao longo do trajeto.
Os cavaleiros de São Nuno partiram de casa sem hesitação. Vá... quase sem hesitação... Bom... talvez com um ou outro momento de hesitação pelo caminho. Ninguém é de ferro! Mas foi precisamente para “enrijar” que, no dia 10 de julho de 2025, o nosso contingente de cavaleiros de São Nuno — novos e veteranos — se reuniu em Setúbal para, sob o estandarte do Santo Contestável, conquistar a capital lusitana!
Se soubéssemos, na altura, das surpresas que nos aguardavam... Porque, para conquistar Lisboa, não bastou marchar em direção ao Norte: foi preciso aprendermos a vencer-nos a nós mesmos, o mundo e o demónio!
De conquista em conquista, os padres da Rota foram-nos ensinando a arte da guerra contra o “CaMuDe”. A nossa arma secreta: a Cruz de Cristo.
“Eu venci o Mundo” (Jo16,33), foi o lema escolhido para esta quinta edição da Rota de São Nuno. Cristo já venceu! Se nos unirmos a Ele, por meio da fé, de uma vida de virtude e dos Sacramentos da Igreja, a vitória final está garantida.
A nossa primeira conquista foi o grande forte de São Filipe, de onde pudemos ter um vislumbre do nosso destino, no horizonte. Foi lá que os nossos narizes, de faro apurado, nos deram a conhecer as patrulhas de cada um, para depois criarmos os nossos brados de guerra. E assim se deu a nossa partida, de mochilas às costas, em formação ordenada, para terminar o primeiro dia no olival das nossas aliadas, as freiras do Convento da Apresentação de Maria, onde montámos as tendas.
“Que os jogos comecem!”, anunciou-nos o Diretor da Rota. Cada jogo a ganhar, cada montanha a superar, cada bolha no pé a suportar, foram oportunidades para nos superarmos a nós mesmos, para vencermos os nossos medos e provarmos o nosso valor. Porque, se as virtudes são bons hábitos, é pela prática que as adquirimos! É preciso, como um soldado, treinar a vontade! É preciso habituarmo-nos a renunciar a nós mesmos por Cristo!
Os primeiros dias foram os mais duros. As nossas pernas, habituadas ao sofá da sala, reclamavam do mau trato. O calor do sol de verão fazia-nos escorrer em suor. Mas quem ousaria queixar-se de calor, vendo os padres que nos acompanham vestidos da cabeça aos pés, de batina preta!?
“Já chegámos?” Calma! Ainda agora começámos!
A Rota obrigou-nos a prescindir de muitos confortos, a deixar para trás muitas coisas que pensávamos indispensáveis. Mas, por incrível que pareça, passámos bem sem elas!
Longe da FIRMA e dos seus ecrãs, percebemos o quanto estávamos a perder das maravilhas do nosso Portugal! E mais! Sem tecnologias para nos distrair, pudemos perceber o que realmente importa nesta vida.
Quem precisa de computadores, telemóveis e televisões? Os nossos convívios noturnos, as novas e velhas amizades, as grandes conversas que tivemos ao longo da estrada, deram-nos a conhecer o valor de termos irmãos em Cristo. As amizades cristãs não são algo facultativo. Quem encontra um verdadeiro amigo, encontra um tesouro!
A Rota de São Nuno ofereceu-nos a ocasião de testarmos os nossos limites e descobrir que somos capazes de mais do que pensávamos! Dividindo as tarefas entre as patrulhas, fomos nós que preparámos o comer, fomos nós que servimos os camaradas, fomos nós que lavámos a louça; cada dia que passava, montávamos as tendas mais rapidamente.
Mas, de forma especial, a Rota deu-nos a possibilidade de nos aproximarmos de Deus, de O encontrar na oração silenciosa e na estrada, de redescobrir o mistério da Santa Missa e conhecer a força espiritual das virtudes cristãs.
“Já chegámos?”. Cavaleiros! O melhor ainda está para vir! Toca a arrumar as tendas!
No novo acampamento, estabelecemos o nosso campo de treino, com múltiplas estações e jogos para exercitarmos todas as nossas habilidades. Tínhamos tudo o que precisávamos: espadas, lanças, granadas de água, latrina com jetsky...
Chegada a noite, ainda tivemos energias para um concurso de talentos diante de um júri rigoroso! Comediantes, malabaristas e dançarinos! Quantas revelações!
(No meio da noite... gritos, seguidos de explosões em todo o acampamento.)
“Alerta cavaleiros! Os espanhóis atacam-nos de surpresa!”. O esforço foi heróico, mas a ameaça foi rapidamente suprimida. Isto foi sinal de que era preciso seguir caminho.
No percurso, conquistámos o forte de Palmela e o castelo de Sesimbra. De bandeiras na mão, subimos às suas torres e contornamos as suas ameias. Os pés queixavam-se, mas o coração não se dava por vencido. A Santa Missa na igreja daquela fortaleza serviu-nos para recobrar forças.
“Praia à vista!”. Uma pausa muito bem-vinda! As praias de Setúbal não são nada más, e o areal foi terreno propício para construir a nossa cabana. Depois de uns mergulhos e umas lutas greco-romanas, ainda encontrámos tempo para umas cantorias ao som da guitarra.
“Oh mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal!”. A nossa conquista seguinte foi o Farol do Cabo de Espichel, com Missa no mítico santuários de Nossa Senhora do Cabo. Este Cabo descia abruptamente para o mar, em ribanceira íngreme, maravilhando-nos com uma paisagem fantástica sobre o oceano Atlântico. Encontrar caminho para descer as falésias não foi fácil, mas valeu a pena pelo mergulho.
“Às armas, soldados!”. O grande dia chegou! O dia da grande batalha! Conduzidos por entre os pinhais de Setúbal, chegámos ao grande parque que nos serviria de campo de batalha. “Vai doer vai! Se não doesse não tinha graça! Cada cavaleiro com a sua arma de Paintball!” As patrulhas defrontaram-se umas contra as outras. Foi um derradeiro teste de agilidade, de rapidez, de pontaria, de estratégia e de coragem!
“Que Aura!”. Os padres, como tinham acumulado aura a mais ao longo dos dias, decidiram partilhá-la connosco (em forma de balas de paintball). Batinas contra patrulhas! O choque foi violento!
No final do dia, arrebentados, esfomeados, metralhados e tingidos de tinta, chegámos ao novo acampamento a tempo da Missa. Era dia de Nossa Senhora do Carmo, e nem que desmaiássemos, não podíamos faltar a tão bela Missa em honra da nossa Mãe do Céu.
Finalmente, depois de mais uns dias, avistámos o Tejo... e Lisboa na outra margem. A Rota estava a chegar à sua conclusão, e era preciso distinguir os mais bravos de entre os cavaleiros. Com as devidas cautelas, penetramos, em silêncio, a Base Naval de Almada e subimos ao navio escola Sagres.
No convés de tão majestoso navio, deu-se a tão esperada cerimónia do Treck, na qual, de sabre na mão, o Diretor do campo deveria convocar e condecorar alguns dos nossos melhores cavaleiros: aqueles que, pelo seu bom exemplo, maturidade e espírito de serviço, destacaram-se de forma evidente. De joelhos, cada um deles prometeu ser digno de vestir o Treck, levando uma vida exemplar de virtude e piedade. Que Deus os ajude!
No dia seguinte, acordámos bem cedo. Por uma última vez, pusemos as mochilas às costas e partimos para o porto. Tomando posse de um Ferryboat, fizemos dele a nossa caravela portuguesa para, como os navegantes nossos antepassados, atravessarmos o majestoso rio Tejo, enchendo-o de cantorias e bradando a plenos pulmões o hino que criámos para esta Rota.
Lisboa é nossa! Grande Missa solene para dar graças a Deus pela Rota de 2025!
“Oh... já chegámos? Não podemos continuar?”. Podemos e devemos! Se a Rota de São Nuno terminou, cabe a cada um de nós continuar a viver no seu espírito, conservando o que aprendemos e os bons hábitos que adquirimos, como discípulos de São Nuno, sob o estandarte da Cruz!
“Cavaleiros de São Nuno! O que é que nós fazemos?!”

